Mais uma semana que termina seguindo a rotina. O marido passa o tempo na fazenda, trabalhando, pois é o provedor da família. Do seu trabalho dependem os três filhos e a esposa, seu núcleo familiar primário. Ele também ajuda os pais da esposa que passam por dificuldades, além de contribuir com trabalho e recursos na comunidade a qual pertencem. É a escola que demanda recursos. É a igreja que demanda tempo. Desse modo, o cansaço é grande. Muitas vezes, quando chega em casa, a única vontade que tem é a de se deitar no sofá e ver um pouco de televisão. Entretanto, nem tudo é tão simples. A esposa e os filhos querem a sua a participação nas atividades sociais que programaram durante a semana. Assim, qualquer menção por parte do cônjuge mantenedor de não querer participar ou de não querer promover uma reunião social, transforma-se em motivo de briga. Toda a argumentação é respaldada pelo fato de que haviam ficado a semana toda em casa, justificado pelo bordão: Eu mereço!
O fato chega a ser cômico, uma vez que o cônjuge que diz “eu mereço” se autopremia com o esforço alheio. É um exemplo domiciliar com o marido e a esposa. Poderia ser o oposto, assim como se pode constatar o fenômeno nos mais diferentes ambientes. As pessoas se autopremiam, antes mesmo do merecimento. Pode-se observar colaboradores que não colaboram tanto assim, mas se julgam merecedores de benefícios; existem donos de empresas que se beneficiam do esforço alheio, sem a devida contrapartida; há professores que não ensinam e tampouco aprendem, mas que querem o reconhecimento; se encontram pessoas que não contribuíram, mas que se aposentam; e tem jovens e adolescentes que não se autossustentam, mas se arrogam o direito de receberem uma premiação pelo esforço que ainda não fizeram. Essas são situações de pessoas que se autopremiam pelo esforço alheio. Exercer o autocuidado é uma necessidade humana que leva a que as pessoas se deem mimos e aproveitem a vida com certas regalias. Creio esse ser um norte dos indivíduos que os move em busca de melhorar a própria vida, podendo igualmente melhorar a dos demais. Entrementes, antes de proclamar “Eu mereço!” a pessoa deve saber: merece? De onde virá o prêmio? As custas de quem virá o benefício que se está auto atribuindo? Assim, usar elementos da comunicação Não-Violenta e da Inteligência positiva pode contribuir para se cuidar cuidando do outro. Logo, observo pessoas se autopremiando sem, contudo, se questionar por que merecem aquilo que se atribuem. Muitos se afundam em dívidas, mas não renunciam ao prêmio. É o sabotador esquivo atuando. Outros se premiam mesmo que seja às custas de ofensas, agressões e prejuízos a terceiros. É o sabotador controlado agindo. Eu também, às vezes, creio que mereço certas benesses. Porém, sempre cabe perguntar: as custas de quem? Essa pergunta ajuda a que se observe os fatos e se identifique se é uma ação sábia ou sabotadora. Por isso, uma organização, seja social ou empresarial, onde todos produzem se torna mais justa. Quando todos são, interdependentemente, responsáveis pelo esforço para se alcançar determinados resultados, também o fato de fruir dos benefícios torna-se mais legítimo. Fazer uma pausa para observar com autenticidade quais as necessidades e os sentimentos envolvidos, bem como resgatar a sabedoria com a empatia para avaliar as diferentes alternativas, diminui a violência e aumente a positividade.
“Eu mereço!” e o outro merece. É uma reflexão, resultado da prática da observação, que aponta um fenômeno que pode ser muito bom ao identificar que as pessoas estão se preocupando consigo mesmas, dando-se o direito da autopremiação. Observe, sinta, veja as necessidades e peça com a sabedoria de quem sabe o que quer sem descuidar do outro que merece. Presenteie-se! Muito justo, desde que você mereça…
Por Moacir Rauber
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