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O abraço tem variações culturais, podendo ser mais apertado ou mais frouxo; mais indicado para um momento ou outro; mais praticado entre um determinado grupo de pessoas ou outro; enfim, cada cultura com suas características. Porém, o que quero hoje é abraçar um amigo. Algum amigo pode me dar um abraço?
A pandemia chegou como quem não quer nada e mudou quase tudo. Por não haver um medicamento comprovadamente eficaz no tratamento da doença, a pandemia instituiu o medo do contágio que nos fez adotar novos comportamentos. Mais cuidados com a higiene pessoal, o isolamento e o distanciamento social têm sido as novas práticas. Enquanto aumentar o cuidado com a higiene nos traz benefícios, o isolamento e o distanciamento social têm provocado efeitos colaterais danosos.
Tenho vivido meu isolamento desde março. O meu trabalho migrou para o ambiente virtual, a minha família está distante e os meus amigos não os vejo. Tudo isso tem gerado efeitos colaterais em muitas pessoas, como a tristeza, a ansiedade, a depressão ou simplesmente a falta do contato físico. E aí faz falta o abraço de um amigo. E o abraço é incrível, porque no instante que você o dá, você o recebe.
Parece-nos algo paradoxal, porque quanto mais você dá, mais você recebe. E dar abraços faz bem para a saúde física e a saúde da alma. Para as crianças, os abraços aumentam a autoestima, geram calor humano, melhoram as conexões, diminuem o estresse emocional, controlam a ansiedade e baixam a agressividade.
Assim, as crianças que foram mais abraçadas se revelam como adultos mais amorosos, afetuosos e amigos. Dessa forma, entende-se o contato físico como uma necessidade humana, porque a nossa realização somente acontece com a presença e a participação do outro. É o outro que nos dá sentido à própria vida. Pode ser o cônjuge, a família, os colegas de trabalho e os amigos. Confesso que hoje sinto a falta de um abraço que expresse a amizade.
Lydia Denworth, em seu livro Amizade: a evolução, a biologia e o poder extraordinário do vínculo fundamental da vida, destaca que os amigos, em muitas ocasiões, nos levam a descobrir nossa missão no mundo. Tenho amigos assim. Têm amigos que nos levam a ser mais saudáveis. Tenho amigos assim. Têm amigos que nos levam para a diversão nem tão saudável. Tenho amigos assim. Têm amigos que nos permitem a intimidade das confissões. Tenho amigos assim. Têm amigos que nos dão suporte pelo simples vínculo da amizade. Tenho amigos assim. Muitos deles são os mesmos, porque a amizade é um empreendimento de longo prazo.
Muitas amizades começaram na infância e perduram até hoje. Outras começaram um pouco mais tarde, nem por isso são menos intensas. Reconheço, nesse momento, que estar com os amigos não é indulgência com o trabalho ou desatenção para com a família, mas uma necessidade que nos traz felicidade à vida. E talvez um dos equívocos cometidos seja o de não dedicar todo o tempo devido aos amigos.
Antes da pandemia eu podia abraçar aos amigos, mas muitas vezes não o fazia. Hoje eu gostaria de abraçar aos amigos, mas não posso. No meu entendimento, as amizades necessitam de abraços. O que fazer? Enviar-lhes e receber os seus abraços virtuais na torcida para que possa fazê-lo presencialmente num futuro próximo.
Colunista Moacir Rauber
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