(Tempo estimado de leitura 04’15”)
Seguiram os impropérios proferidos contra os demais, quando na realidade havia somente um único responsável por ter esquecido a senha do cartão: ele mesmo.
A raiva e a revolta demonstradas eram, mais uma vez, uma atuação, porque enquanto proferia os palavrões a câmera do celular registrava tudo no vídeo de si mesmo. As pessoas têm cada vez mais atuado do que vivido. Preferem contar a sua vida ao invés de vivê-la. Outros, preferem simplesmente assistir a encenação da vida dos demais.
As representações feitas nos vídeos e nas edições dos momentos escolhidos para gravar e compartilhar, quase sempre, não são verdadeiras. São atores de si mesmo que se acreditam especiais. Entretanto, no seu íntimo sabem que isso pode não ser verdade, o que leva a que muitos sucumbam frente a síndrome do impostor.
Assim, frequentemente, profissionais de todas as áreas são acometidos pela síndrome, levando a muitos que se afastem do trabalho até que consigam recuperar sua autoconfiança. E o que dizer de tantas pessoas que somente representam a si mesmos? Entendo que todas as pessoas são únicas, singulares, múltiplas e plurais. E especiais? Depende.
Você pode ser um atleta, um artista ou um profissional especial, mas para isso precisará de dedicação, empenho e esforço. Terá que sair da zona comum de que todos somos únicos, singulares, múltiplos e plurais e desenvolver alguma capacidade a um nível muito acima da média. Ser um “virtuose”, que é alguém que exibe uma habilidade de execução técnica ou de conhecimento num grau muito alto.
Para ser especial em algo há que ser excelente, exímio, notável, perfeito, virtuoso. Representar a si mesmo o torna especial? Não creio. Parece-me que cedo ou tarde a síndrome do impostor vai alcançar essas pessoas. Por quê? Porque as emoções que exibem na câmera não são reais.
Os fatos que apresentam, muitas vezes, são manipulados. A alegria que expressam é exagerada. A tristeza que demonstram é artificial. Na verdade, são impostores. Se alguém que cumpre um papel real pode ser atingido pela síndrome do impostor, imagine o que acontecerá com quem sabe que é um impostor.
Voltando aos atores de si mesmo, parece-me um desafio enorme poder se ver como um ser humano único, singular, múltiplo e plural para reconhecer que do outro lado da câmera está um ser igual.
Para ser especial é essencial ser autêntico para pelo menos reconhecer que é sua a responsabilidade de saber a senha do cartão. Com isso, talvez deixe de representar para poder ser quem realmente é.
Colunista Moacir Rauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com
Home: www.olhemaisumavez.com.br
[wpforms id=”2871″ title=”false” description=”false”]