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Em meu texto Para uma concepção crítica das técnicas secretariais: quando o exercício profissional vai além das rotinas administrativas comento sobre a complexidade da prática secretarial. A não compreensão dessa complexidade, faz com que profissionais encarem muitas de suas atividades como sendo intuitivas e/ou óbvias, mesmo elas sendo altamente complexas, construídas com base no domínio de diversos conteúdos específicos trabalhados na formação profissional em secretariado.
Surge aí o preconceito secretarial. Ele se estabelece nas relações entre os profissionais de secretariado e está relacionado à construção violenta, hierarquizante, limitante e preconceituosa da leitura da prática do e do outro profissional, baseando-se somente pela métrica monetária. No preconceito secretarial, a/o secretária/o é julgado pelo tamanho da empresa em que atua, pela importância da/o executiva/o que assessora e nos valores do salário e dos benefícios recebidos.
O fator prática é anulado, a complexidade do fazer secretarial é minimizada e, com isso, relações identitárias profissionais passam a existir somente com os pares imediatos estabelecidos pela métrica monetária.
E percebemos o quanto o preconceito secretarial é violento quando profissionais que atuam na alta gestão julgam profissionais que atuam em pequenas e micro empresas, alegando que eles não desenvolvem atividades significativas. “Nem está registrado como secretário executivo”, dizem.
Ao mesmo tempo, não questionam a/o profissional que está atuando como secretária/o com a nomenclatura de Business Partner, ganhando quatro vezes mais o piso salarial da profissão.
Em que medida o profissional que atua em um pequeno escritório de advocacia tem uma prática menos significativa e menos complexa que o profissional que atua na assessoria de alta gestão em uma multinacional?
Enquanto em grandes empresas temos setores e atividades bem definidas, com um organograma bem estabelecido; em pequenas empresas, por vezes, o profissional de secretariado desenvolve atividades no âmbito da Gestão de Pessoas, Gestão de Materiais, Controle Financeiro, Criação e apoio no controle de propagandas de Marketing, Fechamento e controle de parcerias, Supervisão e liderança de equipes, dentre outras atividades.
A resposta é simples: ambos profissionais desenvolvem atividades complexas. O desafio é analisarmos crítica e profundamente nossas práticas para percebermos os fenômenos que estão por trás delas.
Provavelmente, o profissional de secretariado que atua em um pequeno escritório não consegue perceber que tem atuado no âmbito da Gestão de Pessoas quando contrata o auxiliar de serviços gerais, quando supervisiona o trabalho da copeira, do motorista, quando faz o controle da presença desse pessoal, quando cria um fluxo de informações para enviar ao escritório contábil para que o pagamento deles seja liberado, por exemplo.
E o grande problema está na ideia de que essas práticas são desafios específicos que chegam até a gente, sendo que não, o que soa como desafio é na realidade uma das competências que desenvolvemos no âmbito de nossas formações. Ora, não tivemos disciplinas de Gestão de Pessoas, de Contabilidade, de Psicologia Organizacional?
Necessitamos de voltar às nossas formações para conseguirmos reconhecer o quão completa ela é. Reconhecendo isso, conseguiremos estabelecer melhores relações com nossos colegas de profissão, sem relações violentas, exclusão social e, o bendito, preconceito secretarial.
Colaborador Jefferson Sampaio
“Professor no Instituto Federal de Brasília – IFB. Atualmente, realiza pesquisas na área de secretariado, metodologias ativas, educação em direitos humanos, educação para a cidadania e educação de jovens e adultos. Um grande experimentador das sensações da vida”
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