(Tempo estimado de leitura 04’10”)
– Posso indicar você para mostrar a Basílica de São Pedro para um amigo meu?
– Claro que sim!
– Mas não é um amigo qualquer. Ele que “ver” a basílica, mas ele é cego.
Bastava Martin se lembrar de uma das frases do seu ilustre visitante cego: Os homens são bons, embora, às vezes, seja preciso ser cego para ver a bondade. Uma das principais crenças do visitante Lorenzo Tapia era a de que os homens eram bons, ainda que estava ciente de que o lado não bom estava presente em cada um. Ele dizia que para ser mau é preciso estar louco, o que não quer dizer que todos os loucos sejam maus.
O padre Martin estava nervoso pela insegurança de não saber como fazer para que Lorenzo pudesse “ver” a Basílica de São Pedro. Começaram o passeio pelos espaços que ele acreditava que conhecia muito bem. Ao passar pelos lugares que caminhava todos os dias descrevendo os detalhes para o seu amigo, percebeu que, muitas vezes, não enxergava aquilo que olhava e via.
Marque-se a diferença entre olhar, ver e enxergar. Alguém pode olhar sem ver nem enxergar. Alguém pode olhar e ver, mas não enxergar. E naquele momento o Pe. Martin entendeu que finalmente estava exercitando a plenitude dos sentidos, porque olhava, via e enxergava o ambiente que acreditava ser tão conhecido para ele.
Em todas as visitas que fizera acompanhado de pessoas que olhavam e viam ele não havia realmente enxergado. Agora que acompanhava um cego que olhava, mas não via, era ele quem enxergava. Da mesma forma, ao descrever a basílica para um cego, Martin compreendia que Lorenzo olhava e não via, mas que enxergava de fato, porque sentia.
A visita transcorreu maravilhosamente bem. O seu novo amigo Lorenzo lhe deu uma aula sobre bom humor, humanidade, amor, perseverança, coragem, compaixão e visão. Nas conversas que tiveram Lorenzo revelou que ficou cego aos 11 anos de idade. Foi um choque. Veio a tristeza. Por fim, ele escolheu a vida.
Lorenzo decidiu não se encurvar nem se ocultar das dificuldades que encontraria na vida. Viver era um privilégio e ele iria aproveitar a oportunidade por si e pelos que o amavam. Daí nasceu o bom humor de onde vem a crença e a fé nas pessoas.
Dizia Lorenzo, “Posso me perder nas minhas viagens, mas sempre tem alguém que me orienta”. Isso o levou a amar sem medida as pessoas e a vida.
Nesse amor está presente a perseverança, porque coisas não tão boas também acontecem. “Eu tropeço e caio. Pessoas que veem também tropeçam”. É a hora de se ter forças para se levantar e seguir. É a perseverança que lhe dá a coragem de não desistir.
Desse modo, com bom humor, amor, perseverança e coragem vem a compaixão por si e pelos demais que revelam a própria humanidade. O visitante cego do Vaticano pode não ter o sentido da visão, mas tem a visão plena da vida que lhe permite ter uma vida plena.
Quem é o verdadeiro cego? Como está a cegueira na tua equipe? E a tua organização?
Colunista Moacir Rauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com
Home: www.olhemaisumavez.com.br
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